Carta de despedida

  © Letícia Thompson

 


É fácil entender seu cansaço, seus porquês, seus ais. Difícil é entender sua indiferença, sua distância. Não me peça compreensão, não me peça para não confundir isso com desamor, pois para mim desatenção desamor é. Estou dolorosamente doída, sofridamente sofrida. Amor não deveria causar dor, mas é sempre o caminho pelo qual atravessamos. Amar dói. Dói sempre, mesmo quando estamos felizes. E como dói! E desamar não causa alívio. Aí está a difícil escolha. Escolha!!! Como se tivéssemos! Como se fosse possível comandar a esse pedacinho pulsando dentro de mim e dizer a ele ame ou desame! Ele tem vida própria. Pior, vontade própria. De uma teimosia insólita! De uma insolência extraordinária! E como é mimado, cheio de vontades! Não aprende nunca! E você assim, brincando com ele como se fosse apenas de papel...

Se brigamos, jogamos pra fora as mágoas que estão por dentro antes que criem raízes. Mas o silêncio me fere! Ah!, brigue comigo, mas não fique calado. Não suporto a voz do silêncio quando sinto que há tanta coisa que poderia ser dita.
Depois que te conheci, passei a ser nós. Agora preciso reaprender a ser uma metade de nós dois em busca de si mesma. Serei de nós dois a parte que ficou. Ficou triste e desamparada, mas cheia de vontade de seguir adiante. Porque a vida não acaba quando um amor acaba, ela apenas toma uma nova direção.


Poderei ser sua amiga, a melhor que você já teve, mas não me peça para deixar em pausa meu amor. Ele não saberia se estagnar, mesmo se eu brigasse seriamente com ele. Mas você, você precisa de uma amiga, não de um coração perdidamente apaixonado por você. E você terá. Só que como nunca aprendi a separar bem as coisas, deixo aqui esta carta de despedida. Me despeço sim, desse amor, para que nasça a amizade que vai te fazer levantar. É mais fácil procurar um ombro amigo que um coração amoroso quando se está infeliz. Pelo menos para alguns. 
Então deixo meu amor nessas linhas. Tenho ainda lindos momentos para recordar, de tudo o que vivemos. E eles enfeitarão minhas noites como as gotas de chuva na janela. O futuro já não existe.


Digo ao meu coração para que não fique triste. Mas ele se escondeu no fundo da minha alma para não me ouvir. Melhor ir dormir e sonhar com estrelas. Amanhã serei apenas um alguém mais no caminho do amor desencontrado. Mas... por você e para você, nasce uma amiga para te acompanhar em to
das as suas horas.

 

 

Letícia Thompson

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Música: Je suis malade - Serge Lama