Eu já joguei muitas dores em cadernos,
pedaços de papel aqui e acolá. Já contei a Deus minhas
decepções e confessei meus erros, mesmo os que mais me
doeram confessar. Falei dos meus medos e os segredos
mais escondidos do meu coração. Descrevi minhas esperanças e meus
sonhos mais bobos, os mais infantis e os mais inocentes.
Também os mais lindos e que provavelmente nunca se
realizarão, mas como me fizeram viver!!!
Já tive vontade de falar com pessoas
que se fizeram de surdas e chorei todas as lágrimas do
mundo, as que me foram reservadas para aliviar minha
alma. Já distribuí minha felicidade com todo mundo em
alguns segundos porque ela já não mais cabia em mim.
E, abrindo o peito, me sentia mais
leve, como se as pedrinhas que me incomodavam ficassem
menos pesadas ou me fizessem vê-las com um olhar novo.
Tudo o que o coração guarda, ele
guarda pra sempre. Não estou falando de grandes amores
ou grandes paixões, que marcam para sempre, mesmo quando
passam. Estou falando é dessas coisinhas que ele vai
acumulando no dia-a-dia, que uma só não faz nada, mas
que o acúmulo pode fazer grandes estragos.
Não sei se as pessoas têm idéia do
quanto necessário e importante é deixar falar o coração.
Quando não falamos, as coisas ficam trabalhando na nossa
cabeça e com uma insistência perturbadora. Uma mágoa,
uma idéia, uma decepção e até uma felicidade precisam
ser postas para fora. Emoções precisam ser liberadas,
precisam estar de fora para que guardemos nossa
objetividade.
Guardar sentimentos sem expô-los,
de alguma forma, nos torna doentes.
Mas abrir o coração não é coisa fácil.
Requer maturidade e coragem. Maturidade porque
administrar sentimentos é dolorido e coragem porque é
preciso ter honestidade consigo mesmo nos erros e nas
quedas sem buscar justificativas e sem cair na armadilha
da auto-condenação.
Um dos segredos que descobri da vida é
que
além dos amigos e diários, Deus é o que possui os ombros
mais largos quando precisamos desabafar. Muitos
ainda não descobriram isso...