A gente nunca deveria se acostumar com o amor.
Deveríamos ter sempre essa sensação de novo, novidade, como se, cada manhã,
descobrindo o nascer do dia, nos extasiássemos diante do espetáculo como se ele
jamais tivesse acontecido antes.
Falta cuidados com o amor, com a nobreza dele e é por isso
que ele se apaga.O frio no estômago passa logo que o amor toma posse, o coração bate
menos rápido com o decorrer dos dias, a saudade precisa de mais tempo para ser
sentida e os hábitos se instalam.
A diferença básica entre homens e
mulheres é que a primeira parte é mais racional, vê e ouve somente o que quer,
se satisfaz com mais facilidade fisicamente e a segunda...
ah, a segunda!... essa é a guardadora dos sonhos
que faz com que muitos relacionamentos continuem até depois que o sentimento
acabou.
As mulheres trazem quase sempre escondido no peito a caixinha de
promessas dos primeiros encontros, dos primeiros suspiros, primeiras palavras
trocadas, elas guardam datas, tentam adivinhar os desejos, se especializam em
surpresas e esperam secretamente ser adivinhadas.
Algo que aprendi com o tempo foi que o amor não é um conjunto de
compatibilidades, mas a aceitação das incompatibilidades. Não amamos a outra
pessoa quando ela tem algo que nos agrada, mas quando o que não nos agrada
torna-se menos importante, mesmo se continua a existir. O amor está na
diferença do contrapeso.
É preciso,
para se guardar um amor, ter-se a memória fraca para certas coisas e um
coração desesperadamente atento para outras. É preciso conhecer certos
detalhes e dar-lhes a devida importância, apreciar o pôr-do sol como se
fosse a primeira vez e se dar as mãos como se elas nunca se tivessem
separado.