Entre nós
©
Letícia Thompson
Amar é importante.
Sentir o amor, sentir-se amado é importante.
O grande mal que atinge o mundo é a ausência
daquilo que chamamos o maior de todos os
sentimentos e a maior dentre todas as coisas.
Não falo aqui do amor carnal, embora este
entre em conta na contabilidade da felicidade de
cada um de nós. O que falo é no amor que gera a
atenção, aquele devido e reclamado por cada ser,
mas mais reclamado que tudo, como se o dar
não fizesse parte do acordo implícito em cada
relação humana.
As pessoas
desinteressam-se das outras, porque dizem-se ter
o suficiente com os próprios problemas. E o têm,
provavelmente. Mas o que gera o isolamento, a
solidão temida, é justamente querer receber
aquilo que nos recusamos a dar. O que falta é a
atenção necessária ao outro para sentir-se, pelo
menos, ouvido e parte integrante na roda da
vida.
Cada um fala por si
e poucos são os que se importam realmente com
que o outro diz, com seus reais sentimentos,
suas reais razões. Muitas e muitas vezes quando
um fala, o outro já está preparando-se para
dizer, sem ponderar, aquilo que ele mesmo pensa
ou sente.
Pessoas tornam-se assim,
surdas às outras, porque só conseguem ouvir a
voz do próprio egoísmo, não por maldade, mas
pelo apelo das próprias necessidades. Pessoas
juntas sentem-se sozinhas, casais unidos pela
vida sentem-se abandonados, amigos criam
relações superficiais, pais e filhos
distanciam-se.
Olhar nos olhos do outro é
importante. Perceber a dor ou a felicidade e
compartilhar dela é fundamental ao outro na sua
necessidade de se sentir amado. Poucos,
raros mesmo, são os que param o que estão
fazendo quando o companheiro, amigo ou colega de
trabalho precisam falar. Parte do que se diz
fica desconectada no ar e a outra parte,
invariáveis vezes, esquecidas depois. Numa
fração de segundo a frase "do que mesmo
estávamos falando?" pode entrar na conversa,
deixar um sem ação e o outro sem graça.
A atenção dada ou recebida faz parte do
tratamento e da cura dos males que tomam conta
do mundo, ela reforça relações, cria laços,
solda, une e faz bem.
Não ouvimos Deus
porque não queremos ouvir, porque, quem sabe, o
que Ele quer nos dizer nos desagrada e
contraria, mas Ele fala e só percebemos isso
depois com o infalível "eu sabia" que nos fere
como um punhal. Não somos ouvidos por Ele porque
não abrimos inteiramente nosso eu, temos sempre
pressa, estamos sempre ocupados.
Entre
Deus e nós e entre nós e os outros somos os que
definimos o tipo de relação que temos. Podemos
colocar o primeiro tijolo ou esperar que alguém
o faça. Porém a ordem com que este é colocado
influencia e determina cada um dos nossos passos
e abre ou fecha para nós as portas do paraíso.
Letícia Thompson
webmaster@leticiathompson.net
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