Um mundo maravilhoso
©
Letícia Thompson
Eu não sei se a terra se acomodou com
tantas catástrofes ou se as pessoas acabam se acostumando com as tragédias.
Prefiro pensar que não. Prefiro pensar que os corações não se endurecem, não
tornam-se insensíveis e indiferentes.
O que aconteceu no Haiti essa semana moveu
o mundo inteiro. De repente os países e as populações uniram-se num bloco de
solidariedade para tentar salvar o que se podia da situação. Grandes gestos,
grandes feitos, grandes homens...
Mas por que é preciso uma tragédia para que
o mundo acorde para ajudar um dos países mais pobres do mundo? Antes do
terremoto a miséria já assolava o local, os tetos já caíam sobre as cabeças e as
pessoas já não tinham o que comer.
Assim somos nós nesse mundo que Deus criou.
Nos acomodamos a tudo e passamos a olhar com indiferença e muitas vezes é
preciso que algo extraordinário aconteça para que sejamos sacudidos e possamos
acordar.
Nos comportamos dessa maneira em relação ao
mundo e aos nossos. Quem ainda não percebeu que as lágrimas aproximam muito mais
as pessoas que as alegrias? Os abraços de consolação são mais demorados e mais
sinceros que os de felicitações, como se a dor tivesse o poder de soldar o que
estava quebrado, unir o que estava separado.
Talvez seja essa a razão das grandes
tragédias que acontecem. Talvez precisemos desses alertas para que possamos
olhar nossa casa e o mundo de forma diferente, mais humana.
Eu queria que não fosse preciso uma doença,
uma má notícia, uma desilusão para que as pessoas despertassem para a vida.
Queria um mundo maravilhoso onde ouvir fosse natural, a gentileza fosse natural,
o perdão fosse dado antes que o outro pedisse, onde compartilhar fizesse parte
da rotina diária de cada um.
Se assim fosse, haveria menos famílias
separadas, menos fome, menos solidão, menos peso nos ombros de certas pessoas e
menos infelicidade.
O mundo é o que é e não podemos voltar
atrás. Mas nada nos impede de olhar para a frente, de abrir os olhos, os braços
e o coração. Nada nos impede de dar as mãos, reparar erros, erguer a cabeça e
continuar a acreditar que amanhã pode ser diferente de hoje e que, por mínima
que ela seja, nossa contribuição pode ser dada.
Quem pensa que não possui nada e nada pode
dar está muito enganado. Damos muito quando oferecemos nossas orações e
iluminamos os caminhos quando distribuímos a esperança.
Quando ajudamos o nosso
próximo, não deixamos pegadas apenas na sua história, deixamos também marcas no
coração de Deus.
Letícia Thompson
contact@leticiathompson.net
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