Por que as folhas caem
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Letícia Thompson
A cada outono, certas plantas e árvores preparam-se para um repouso necessário e vital à sua vida e continuação.
Algumas espécies de árvores matizam-se de várias cores, num maravilhoso contraste entre a melancolia e a beleza extrema. Depois, uma a uma, as folhas caem, como lágrimas, até que as árvores, nuas e tristes, abram os braços ao inverno e esperem, pacientemente, a primavera, que restaurará cada folha caída.
Por que para nós seria diferente? Por que não perder antes de reencontrar, por que não as lágrimas, por que não dias áridos, frios e secos? E por que não a esperança de que a primavera volte? Porque, creiam, ela volta sempre!
Talvez nos julguemos bons demais para receber o sofrimento, como se ele fosse sempre símbolo de castigo e não algo necessário ao nosso crescimento.
As folhas caem e as árvores parecem assim tão desprotegidas, tão solitárias!... e eu me pergunto o que faz com que sobrevivam.
Elas entendem que esse período é necessário à sua renovação. Elas aceitam, doam-se e esperam e recebem de volta, no tempo oportuno.
Assim somos nós com todas as perdas que sofremos, com as lágrimas que escorrem e salgam nossa boca, com o tempo que parece interminável ou as noites longas demais.
Tanto que não entendemos e não aceitamos o sofrimento, ele se prolongará. Tanto que não vemos isso como uma fase, apenas uma fase, a ferida estará aberta e sangrará.
Não aceitar o outono e negar o inverno não faz com que não existam. Apenas nos deixam fora de uma realidade que chega pra todo mundo.
Não somos maus demais para recebê-los como um castigo e nem bons demais para que possamos não acolhê-los.
As árvores perdem as folhas e perdemos os nossos. Elas choram e choramos também. Elas esperam e nada há que nos impeça de esperar.
E elas recebem, a seu tempo determinado, novos galhos e novas folhas, novas flores e novos frutos. Sentem-se assim completas.
Somos assim o que somos e o mesmo Deus que sustenta as árvores, nos sustenta a nós!
E Ele nos poda, nos molda, nos deixa nús e aparentemente sem defesa, mas está sempre presente e estará ainda quando a primavera voltar, quando seremos, depois do inverno frio, renovados e prontos para recomeçar.
Letícia Thompson
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