O bem do desapego
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Letícia Thompson
É quando nos preparamos para mudar que percebemos a quantidade de coisas que guardamos sem necessidade. Nem sabemos por que o fazemos, mas temos medo de um dia precisar disso ou daquilo e vamos acumulando nossas preciosidades, se assim podemos dizer.
Grande armário é o nosso coração e a nossa alma! Imagino que se um dia tivéssemos que "mudar" esse pedacinho de nós, encontraríamos nele muitas coisas desnecessárias das quais tivemos dificuldade para nos desvencilhar.
Como nos nossos armários há roupas que nem nos cabem mais, nas gavetas objetos inúteis, há nesse nosso coração certamente sentimentos que há muito deixaram de nos servir, mas que continuam intactos, como se o tempo para eles não tivesse passado.
As águas correm nos rios, mas não no nosso interior. Elas levam o que encontram pela frente, mas nós nos apegamos ao inútil e nos impedimos assim de desembocar no grande mar da vida que nos oferece novos horizontes.
Se um dia decidirmos mudar de casa e nos oferecermos uma nova vida, não precisamos deixar tudo e nem carregar tudo. Um coração sábio saberá escolher o que deve ser aproveitado ou não. Os carinhos que recebemos permanecerão intactos, mesmo se as flores se secaram e as cartas se perderam.
Antigas e amareladas mágoas nunca têm utilidade, a não ser para envelhecer e entristecer nossa alma. Coisas que começamos e nunca terminamos ou continuamos, ou desistimos. Não é vergonhoso deixar coisas para trás, pesado mesmo e seguir em frente carregando essas mesmas coisas que nem sabemos onde vamos colocar.
Valioso demais é nosso coração para que seja maltratado, para que seja a ele negada a chance de se oferecer novas oportunidades e novos ares.
Cultivar no seu jardim a flor do desapego não significa amar menos ou deixar de apreciar o que de bom a vida nos oferece. Apenas mudar nosso olhar em relação ao mundo e se dizer que as coisas realmente bonitas e importantes ficam gravadas para sempre nas paredes da nossa alma, seja qual for nosso caminho.
Letícia Thompson
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