Se tivesse que abrir meu coração, eu contaria todos
os segredos nele contidos, os que me confesso e os que até a mim mesma tento
negar...
Eu falaria da minha esperança, das lutas, da briga por uma
felicidade que eu nem sei se existe, mas que insisto em querer buscar, da minha
recusa em aceitar estar presa a não ser que essa prisão seja minha própria
escolha...
Eu diria, provavelmente, que essa fragilidade é apenas
aparente ou que até nas horas mais fortes meu coração pede abrigo e
compreensão...
Eu contaria, talvez, do orgulho que me impediu de viver
horas bonitas, mas que quando olhei para trás já era tarde demais, dos meus
arrependimentos, dos perdões que tive que conceder a mim mesma para continuar a
levar uma vida tão normal quanto possível.
E também do meu desejo
de ter filhos, criar e procurar neles meus próprios traços e da minha alegria em
encontrá-los.
Eu mencionaria minha mãe, que entendi depois, quando me
tornei mãe também e confessaria com orgulho o quanto a admiro e o quanto a amo.
Eu até lembraria minha infância, minhas dúvidas da adolescência, meu
desejo de crescer e de continuar menina, das vezes que me senti tola e briguei
comigo mesma, me fiz inúmeras promessas e que esqueci quando o coração bateu
forte novamente.
Eu não conteria minhas lágrimas
se tivesse que abrir meu coração, eu assumiria, beberia todas elas como bebi na
taça das dores que sofri, dos amores que vi partir e dos que eu mesma abri mão.
Eu sei que há coisas que nunca aprendi e que provavelmente nunca
aprenderei, sei que da vida bebi e ainda beberei, mas que sairei um dia inteira,
cheia de marcas e cicatrizes, mas mais que nunca me sentirei mais mulher.
Uma mulher nunca diz tudo, há segredos que ela guarda só pra ela,
que não confessa nem para a melhor amiga e é isso que a torna um ser assim tão
cheio de mistérios, tão precioso, tão humano e tão excepcional.