Bem me quer, mal me quer
©
Letícia Thompson
Pior, muito pior que ter certezas dolorosas, é ter
incertezas. Quando sabemos, pelo menos fica decidido, dói, a gente chora, finge
que se esquece, diz que não aceita e acaba por aprender a conviver com a verdade.
O ciúme é um sentimento pernicioso que não destrói
somente uma relação, mas as partes envolvidas. Ele cria feridas tão profundas
que podem nos marcar (e o outro) para toda a vida.
O ciumento costuma dizer: "eu tenho ciúme porque te
amo" quando na realidade deveria ser mais honesto dizendo: "tenho ciúme porque
acho que você me pertence."
Ora, ninguém pertence a ninguém!!! As pessoas doam-se
por amor e continuam elas mesmas. Escolhem voluntariamente estar junto e
continuam a ter o direito de respirar sozinhas e se assim não for, melhor que
cada qual fique do seu lado.
Se o relacionamento é uma brincadeira de bem me quer,
mal me quer, te amo apaixonadamente ou não te amo, então ele não vale a pena.
É insano querer fechar o ser amado num quarto sem
portas e sem janelas, impedi-lo de ter amigos e de poder apreciar a vida como se
deve ser.
Nada pior para uma relação do que a incerteza do amor
do outro, mas ainda o julgar de tudo o que o ele faz, com quem anda, para onde
olha... o querer saber a todo custo os pensamentos que passam pela sua cabeça e
as emoções que atravessam seu coração.
O amor não é uma prisão, mas um campo aberto ao sol e
às flores. É a brisa suave do fim do dia e o sereno da madrugada. É um dar as
mãos voluntário.
Ter alguém que desconfia todo o tempo de tudo o que
fazemos é humilhante. É como se não fôssemos capazes de andar sozinhos e
escolher livremente por onde andamos ou com quem estamos. Conviver com pessoas
assim é altamente destrutivo.
As pessoas são ciumentas porque não se sentem amadas
ou não têm certeza que são amadas o bastante para que o outro fique com elas por
escolha livre.
Elas acham que não são merecedoras do amor e por isso
precisam aprisioná-lo.
Essas pessoas precisam, antes de tudo, conhecer a
razão de tanta insegurança, curar-se desse mal, desenvolver um bom
relacionamento de si para si e só depois poderão abrir-se ao mundo.
Elas deverão amar-se e, por conseqüência, achar
natural que o amor venha a elas, não porque ela criou-lhe amarras, mas porque
ele descobriu um lugar seguro para morar e para onde, de onde ele estiver e por
onde andar, vai querer voltar.
Letícia Thompson
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