A vida não é mãe

 © Letícia Thompson

 

O amor da verdadeira mãe é puro e sagrado. É aquele que nasce muito, muito antes do filho vir e se prolonga até o dia da própria morte.

Ela espera, anseia, acolhe, alimenta, veste e abraça de todo o seu ser e de toda a sua alma, como não seria capaz de fazer para si mesma, pois o filho é mais que ela, é a prolongação dela para outras gerações, o pedaço que vai ficar quando ela partirá.

E o amor extremo sabe que um filho é um presente que se oferece à vida, não a si mesmo, pois ser mãe é ter o dom da abnegação.

É assim que cometemos os maiores erros, tendo dentro de nós o desejo de sempre acertar. Queremos que a vida seja um ninho, como é nosso seio, doce e terno, acolhedor e quente. Mas ela não é...

A vida diz: "luta, se quiser chegar a algum lugar!"

Ela não dá a mão, deixa caminhos livres, que ora são retos, ora escarpados, ora floridos, ora desertos, ora alegres, ora regados pelas lágrimas da dor e da decepção.

Amar demais e proteger demais nossos filhos é deixá-los despreparados para a vida.

Não existe amar certo e amar errado. O que existe é agir certo e agir errado em nome do amor.

E age certo, quem reconhece ser na vida apenas um viajante e que os caminhos percorridos não terão retorno, que o que se faz é o que se deixa. E nossos filhos são, na ordem natural da natureza e de todas as coisas, o que fica além de nós.

Por isso é importante largar a mão e deixar que aprendam a andar sozinhos, se virar sozinhos, aprendam a ser fortes e independentes... aprendam que a tristeza é um estado da alma, mas a alegria também, que não há vitória sem luta e que, não raro, antes de se chegar a ela é preciso enfrentar algumas derrotas.

Eu sei... ver um filho chorando, faz chorar nosso coração. Vê-los tristes apaga todas as estrelas do nosso céu e vê-los lutando coloca nossa alma em revolução.

Mas deixá-los viver a vida inteiramente é a única maneira de vê-los crescer.  Dar responsabilidades é ajudá-los na maturidade.

As pessoas precisam sentir nas próprias veias o gosto da vitória depois da luta, o sentimento do bom orgulho, do contentamento de ter subido e descido e de ter caminhado com os próprios pés.

Amar, como há muito dito, é deixar ao outro a liberdade de ser, mesmo que isso inclua dor e decepção.

Não deixou Maria que seu filho cumprisse sua missão, sabendo, desde o início, que teria no fim uma cruz? Não baixou ela a cabeça e entregou, tendo dilacerado o próprio coração?

Podemos amparar sem servir de estaca, podemos ser o porto que sabem poder ancorar, sem que por isso os impeçam de navegar.

 

Letícia Thompson

contact@leticiathompson.net

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